ORGANIZAÇÃO PAULISTA
DE ARTE EDUCAÇÃO

Ailton Krenak no encerramento do ConFAEB/2022 – Juiz de Fora MG

Tarcila Lima[1]

No XXXI ConFAEB, ocorrido em Juiz de Fora, de 26/11 a 01/12/22, cujo tema foi O invisível não é irreal: é o real não percebido. Por uma Arte/Educação sensível, tivemos a participação do líder indígena, ambientalista e escritor (entre outras coisas) Ailton Krenak no encerramento. Krenak inicia sua fala elogiando a oportunidade da chuva que caía e fazendo sua autodescrição como “Um homem que quando está no sol fica preto e quando está na sombra fica moreno”. E neste tom, com uma certa poética da realidade, segue comentando sobre a importância de termos uma Federação de Arte/educadores que, diferente de uma Associação ou Conselho, contempla a diversidade e pluralidade cultural do país. Krenak aborda a importância da cultura de “bem viver”, que os Quéchua chamam Sumak kawsay, a qual apresenta sua cosmovisão somada à ecologia. Krenak estabelece esse paralelo e ressalta que, se encaixada no liberalismo, a gente pode confundir arte/educação com treinamento e domesticação. E que então surgem iniciativas de arte/educação como as que, em algumas escolas, ocorrem entre a celebração da Páscoa e o chamado “Dia do Índio”, em abril, que nos permitem confundir se as crianças estão com orelhas de coelhos ou vestidas de indígenas. Para o líder indígena, tais aspectos têm a ver com desinformação, o que propicia que tudo isso entre em nossas escolas de maneira subliminar, permitindo que essas crianças continuem entendendo o mundo de maneira preconceituosa, e todo esse percurso venha a constituir o racismo estrutural. Para Krenak, nesse contexto, a arte/educação seria muito próxima do trabalho de cura, do trabalho de cuidar, que poderia exercer o papel de cura. Para o autor, deveríamos primeiro cuidar e ver se eles (as crianças) estão bem, antes de ter a arrogância de querer ensinar alguma coisa.  Krenak nos pergunta: Podemos pensar numa certa Pedagogia do Cuidado? E propõe: Precisamos introduzir essas crianças no terreno daquilo que é chamado de alteridade. Arte/educação é política.

Ailton Krenak comenta sobre o filme “Para pisar suavemente na terra” e indica que antes de buscarmos aprender a pisar suavemente na terra nós precisamos nos educar. E para isso nós precisamos aprender a tocar suavemente uns nos outros, sem machucar, sem ficar nervoso. E devemos trabalhar para não formarmos consumidores, mas cidadãos. Para Krenak, o maravilhamento da vida é o de ser. A vida não é útil, não precisamos que o ócio tenha que ser criativo, mas que seja apenas ócio. Para o escritor, precisamos introduzir uma poética no cotidiano e se não o fizermos, nós adoeceremos. Por isso chama de práticas terapêuticas auxiliares, ações que poderiam ser: não fazer nada, ou uma dança, uma dança performada no solo, coletiva, ou que convoca muitos corpos a desenhar mundos. Com estas falas envoltas em poesia, atenção e cuidado, Krenak encerra sua fala, abrindo a conversa para perguntas.


[1] Tarcila Lima é professora da UNESP Bauru, Prof. Artes São Paulo e conselheira Fiscal -suplente da OPAE

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