Luto na educação, diariamente


Prof. Luis Alberto de Souza[1]

A violência, contra nós professores, assume os mais diversos níveis. Desde a precarização das condições de trabalho, às exigências e intransigências dos sistemas educacionais ávidos por índices, para que possam ser apresentados à voracidade dos mercados financeiros, esmagando professores e alunos diariamente.

Ou então, na miseribilizacão da profissão docente, quer seja na recusa em pagar o piso salarial, que é o mínimo ou, a não correção dos salários de quem já está há anos da sua vida dedicando-se a esse ofício de ensino/aprendizagem.

Infelizmente, a professora Elisabeth Tenreiro é mais uma vítima dessa violência que surdamente invade as escolas e a educação, dessa vez atingindo o corpo, em seu grau máximo de expressão, ceifando- lhe a vida e as esperanças e cá estamos nos, de luto mais uma vez.

Quem não se lembra? No auge da pandemia, quantos colegas professores pereceram por falta de cuidado mínimo do poder público com suas vidas?  Quem não se lembra? Fomos juntamente com outras categorias de servidores públicos, os mais prejudicados por termos todos os nossos direitos extorquidos por uma política genocida e cruel, quando foi um dos períodos que mais se exigiu dos professores.

Todos os dias, meticulosamente, somos violentados nas salas de aulas Brasil afora e ao menor sinal de não cumprimento de índices absurdos, quem são os acusados? Sim, nós professores.

Ao longo do tempo, paulatinamente, fomos perdendo qualquer respeito ou prestígio social (se é que algum dia tivemos) somos achincalhados em stand-ups (inclusive muitos professores vão lá para rirem da própria desgraça, enquanto o outro ganha dinheiro com isso) ou por influencers famintos por likes e holofotes, os quais hoje, já se somam quatro vezes mais o número de professores, no Brasil.

Diante de toda essa violência e barbárie, que encontra o corpo de uma colega que se dedicou a vida toda, a violência contra o corpo de um professor ou professora não é algo isolado. Nós somos o mais longo braço do Estado e atingimos diariamente milhares, milhões de outros corpos e mentes e muitas vezes a violência que se quer impetrar contra o Estado, em resposta à violência que este produz e reproduz, mas é invisível aos olhos dos cidadãos, tem nos professores a sua personificação autoridade, de poder ilusório.

Diante da situação de violência extrema, surgem logo as pseudos soluções ou soluções fáceis, explorando o medo das pessoas e consolidando ainda mais o estado de violência e bradam ” Mais polícias nas escolas!!!” ” Mais seguranças armados!!!” ” Detectores de metais”, como se isso resolvesse algo. A adoção dessas medidas é o prego final que faltava no caixão da educação, o lacre final o seu atestado de óbito e definitivamente o decreto da falência, não só dá educação, mas da própria sociedade.

Para finalizar, Paulo Freire sempre nos reconforta nessas horas difíceis e não nos deixa perder os objetivos:

“A educação por si só não transforma o mundo. A educação transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo”. Precisamos de uma educação que pense no ser humano e não em números.

Profa. Elisabeth Tenreiro descanse em paz, sua luta não será em vão e nós, continuaremos aqui lutando, diariamente.


[1] Mestre em arte pela UNESP e Doutorando em Educação pela UNICAMP. Professor de Arte da rede estadual de ensino na cidade de São José dos Campos.

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